quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Teotihuacanos


                       Teotihuacanos

Por Lucas Moreira Twardowski, da 6ª Série

História: Existem evidências arqueológicas de que Teotihuacan terá sido um local multi-étnico, incluindo Zapotecas, Mixtecas, Maias e mesmo Nahuas, por exemplo. Os Tonacas sempre afirmaram que haviam sido eles a construir esta cidade, o que era corroborado pelos Astecas. Na antiguidade esta cidade foi também conhecida pelo nome Tollan, nome este também usado séculos depois para designar a capital Tolteca, Tula.. Considera-se que Teotihuacan é a sede da civilização Clássica no Vale do México (o período clássico vai de 292 a.C. até ao ano 900). O primeiro povoado data do ano 600 a.C. Foi um povoamento estratégico com acesso ao rico sistema lacustre do Vale do México, a nascentes de água próximas e numerosas, ao vale de Puebla e à costa de Veracruz. Nas imediações abundavam a obsidiana e a argila, matérias-primas para os seus utensílios.
Todos os diferentes povos que ocuparam as terras mexicanas eram oriundos do norte do continente americano. Alguns deles ficaram por aí, continuando as suas tradições de nómadas. Os que chegaram às terras mais a sul, as terras do México, tornaram-se sedentários e evoluíram em direcção a um sistema cultural que teve o seu apogeu na civilização de Teotihuacan. Aqueles povos ergueram no meio da planície, montes de terra sem muros de retenção. Crê-se que estes montes foram murados por civilizações mais avançadas até à formação das pirâmides. O padre Francisano Bernardino Sahagún, chegado ao México em 1529 recolheu da boca dos nobres astecas muitas lendas e muita da história dos seus antepassados. É o padre Sahagún quem conta que ali se enterravam os principais senhores em túmulos de terra. Esses nobres eram canonizados como deuses e não morriam, mas despertavam de um sonho e convertiam-se em espíritos ou deuses. Para os astecas tratava-se de um local lendário e acreditavam firmemente que aí havia sido criado o Quinto Sol, ou Quinto Mundo, ou época atual.

Expansão: Os historiadores concluíram que os fundadores desta civilização faziam parte de um povo do qual não se tem qualquer conhecimento. Estão certos de que não foram nem os olmecas nem os toltecas. Sabe-se, a partir dos dados obtidos a partir de escavações, que o mais antigo de Teotihuacan é anterior à cultura Tolteca. Aquela civilização organizava a sua religião por confrarias. Nos primeiros séculos da nossa era, Teotihuacan passou a ser um estado imperialista que se expandiu grandemente para lá das suas fronteiras. Durante o seu apogeu influenciou muito povos vizinhos e inspirou outras culturas tendo ainda legado conhecimentos científicos e culturais às sociedades posteriores. Por esta razão, é frequente encontrar por todo o território mexicano rastos e evidências desta cultura.
A expansão do império de Teotihuacan foi conseguida, não pelas armas, mas pelo uso sábio do comércio e da religião. Quando a cidade se tornou grande e poderosa, as casas passaram a ser edifícios de pedra substituindo cabanas de madeira e palha. A classe governante, a aristocracia, vivia num bairro rodeado por uma muralha, construído nas proximidades do que atualmente se designa por calçada dos Mortos. Os seus palácios eram ricamente decorados com pinturas murais onde se encontravam representadas figuras de determinados animais, deuses e outros personagens religiosos. O resto da população vivia em construções tipo apartamento de um só piso em que chegavam a juntar-se entre 60 a 100 indivíduos. A certa altura existiriam cerca de 2000 construções deste tipo. No centro tinham um pátio e um ou dois templos.

Decadência: Cerca do ano 650 começou paulatinamente a sua decadência. O número de habitantes foi diminuindo, devido a factores de ordem social e climática. No século encontra-se já no seu ocaso, ainda que o vale nunca foi abandonado. Não se conhece muito bem qual a causa da sua decadência e posterior total destruição. Os historiadores pensam que talvez tenha acontecido uma invasão, ou que o solo se esgotou acabando assim os recursos agrícolas ou ainda, que simplesmente tenha havido uma má administração. A verdade é que com o declínio de Teotihuacan, outros centros que dela dependiam cultural e comercialmente entraram também por sua vez em declínio, como Monte Albán e inclusivamente a civilização Maia.





Palácio de Quetzalpapálotl: Também designado da Borboleta Quetzal ou Borboleta emplumada. Situado a oeste da praça da pirâmide da Lua. Trata-se provavelmente do edifício mais luxuoso e um dos mais importantes da cidade. Terá sido a residência de um personagem notável e influente. Encontra-se amplamente decorado com murais muito bem preservados, sobretudo no que toca à cor vermelha que era a cor preferida desta civilização. As zonas baixas do edifício conservam a cor original. Tem um pátio, chamado pátio dos pilares; estes estão decorados com belos baixos-relevos. No centro pode ver-se a representação do deus Quetzalpapalotl com os símbolos que o relacionam com a água. Este palácio constitui um bom exemplo do que deveria ser a decoração teotihuacana.

Lenda: Foi também o padre Sahagún quem nos deu a conhecer a bonita lenda que nos fala da criação do Sol e da Lua, os deuses a quem foram dedicadas as duas magníficas pirâmides. A lenda reza assim:
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Antes que existisse dia, os deuses reuniram-se em Teotihuacan e disseram, "Quem iluminará o mundo?". Um deus rico (Tecciztecatl) disse "Eu me encarregarei de iluminar o mundo". "Quem será o outro?", e como ninguém respondia, nomearam um outro deus pobre e sarnento (Nanahuatzin). Depois da nomeação, os dois começaram a fazer penitência e a rezar. O deus rico ofereceu penas valiosas de uma ave chamada quetzal, pepitas de ouro, pedras preciosas, coral e incenso de copal. O deus sarnento por seu lado oferecia canas verdes, bolas de feno, espinhos de maguei cobertos com o seu sangue e no lugar de incenso oferecia as crostas das suas pústulas. À meia-noite terminou a penitência e começaram os rituais. Os deuses ofereceram ao deus rico bela plumagem e um casaco de linho enquanto que ao deus pobre era oferecida uma estola de papel. Depois, junto ao fogo, ordenaram ao deus rico que se atirara a ele. Este teve medo e recuou. Voltou a tentar e mais uma vez recuou, isto por quatro vezes. Chegou então a vez de Nanahuatzin, que fechou os olhos e se atirou ao fogo sendo consumido por este. Quando o deus rico viu isto, imitou-o. De seguida entrou no fogo uma águia, que também se queimou (e é por isso que as águias têm as penas foscas, de cor morena muito escura); de seguida entrou um jaguar que se chamuscou e ficou manchado de branco e negro. Então os deuses sentaram-se à espera para ver de onde sairia Nanahuatzin; olhando para oriente viram aparecer o sol com uma cor forte; radiava luz em todas as direcções e não conseguiam olhar directamente para ele. Voltaram a olhar para oriente e viram aparecer a Lua. Ao princípio os dois deuses resplandeciam com igual intensidade, mas um dos deuses presentes atirou um coelho à cara do deus rico e desta maneira diminuiu o seu brilho. Todos ficaram quietos; depois decidiram morrer para assim dar a vida ao Sol e à Lua. Foi o Vento que os matou e que em seguida começou a soprar, fazendo deslocar primeiro o Sol e mais tarde a Lua. Por tudo isto é que o Sol nasce durante o dia e a Lua mais tarde, durante a noite.
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Cidade e Sociedade: A partir sua configuração atual pode deduzir-se que o trabalho de planificação foi cuidadoso. Destacam-se quatro zonas ou eixos principais. De norte a sul estende-se a avenida principal, a calçada dos mortos. Recentemente foi descoberto, perpendicular a aquela, outro eixo, constituído por dois arruamentos que atravessam a cidadela e que não são atualmente visíveis. Foram designadas pelos arqueólogos de Avenida Este e Avenida Oeste.
A cidade era claramente dividida em bairros e centro cerimonial religioso, onde se podiam encontrar os edifícios de atividades administrativas e os grandes palácios, para além dos templos e grandes pirâmides.
Os sacerdotes tinham um papel muito destacado no que tocava à religião e administração. Os arquitetos e os artistas eram alvo de elevada consideração e possuíam oficinas especializadas. No que toca ao corpo militar desta sociedade conhece-se muito pouco. Sabe-se que não se tratava de uma sociedade militarista ainda que na época final aparecessem mais frequentemente, representações de militares nas pinturas murais.

Mascáras: Teotihuacan é a cidade dos deuses e também a cidade dos mortos, aqueles que passam a ser teutl, isto é, heróis divinizados. Por estas razões, ao enterrar aqui pessoas notáveis, supunha-se que estas tinham categoria suficiente para converter-se em teutl; mas para que assim fosse era necessário que fizessem a passagem levando consigo uma máscara, pois os deuses nunca mostram a sua cara, cobrindo-a com uma máscara. Por este motivo os grandes senhores enterrados em Teotihuacan foram sempre providos de máscaras, podendo assim aceder a uma existência heróica além-túmulo.


Em todas as necrópoles pré-cortesianas foram encontradas, sobre os cadáveres, máscaras de vários tipos e de grande tamanho, nunca menores que o tamanho natural de uma cara. Para os povos índios do sudoeste dos Estados Unidos, falar de máscaras era falar de deuses. Na cultura grega da antiguidade também se utilizavam máscaras no teatro, quando a representação se convertia em ato religioso. Para os povos orientais, a máscara sempre teve um poder mágico. Mesmo no teatro italiano do Renascimento os personagens protagonistas por excelência, Pierrot e Arlequim, usavam máscara, como representação mais divina que humana, enquanto que os outros personagens (Colombina, Polichinelo), não a usavam.
No entanto, as máscaras de Teotihuacan são de uma beleza excepcional. Nunca reproduzem os traços especiais de cada indivíduo, mas sim os traços gerais de cada povo. As suas linhas são corretas e mostram o retrato físico e espiritual de uma estirpe. Em Teotihuacan foram capazes de talhar estas máscaras em pedras duríssimas e de grande qualidade, escolhidas cuidadosamente de acordo com a sua cor natural e iridescências apresentadas. As máscaras que haviam sido feitas de pedra menos dura e de pior qualidade foram posteriormente estucadas e pintadas. Outras eram revestidas de mosaicos de turquesas, coral eobsidiana:
§  Turquesa, a cor de Tláloc (deus da chuva e da água).
§  Vermelho (coral), a cor de Xiuhtecutli (deus do fogo).
§  Negro, a cor do Quetzal (O Quetzal é uma ave de bela plumagem; no entanto Quetzal é um nome genérico também aplicado à plumagem propriamente dita).
O historiador de Arte José Pijoan, no volume X da coleção Suma Artis, descreve a descoberta de todas estas máscaras em Teotihuacan defendendo que são os objetos de arte mais preciosos de todos os encontrados no México.


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